sexta-feira, 8 de julho de 2011

“No Brasil é difícil fazer tudo certinho”

“No Brasil é difícil fazer tudo certinho”

07/07/11 07:45 | Costábile Nicoletta - Diretor Adjunto do Brasil Econômico
Um empresário que atua no ramo imobiliário estava completamente desolado na noite de terça-feira, 5 de junho. "Essas denúncias de corrupção que lemos diariamente nos jornais são o retrato de como são tratadas as coisas em todas as esferas da administração pública", lamentou.
Ele disse que, certa vez, ouviu de um grande empreiteiro: "Você sabe que é muito difícil fazer tudo certinho no Brasil". E pensou que fosse exagero típico de quem se habituou a só conseguir encomendas do setor público com algum tipo de favorecimento.
Mas está convencido de que a corrupção se arraigou de tal forma em todo tipo de relação comercial no país que pouca gente se dá conta de que todos passamos a ser tolerantes com condutas que deveriam ser condenadas e combatidas, em vez de ser tratadas com condescendência.
Encarar delitos ético-morais como atos deploráveis deveria ser tema de disciplina a ser ensinada nas escolas desde o jardim de infância. Da mesma forma, seria valioso incluir nas aulas de matemática problemas que mostrassem didaticamente como são cobrados os impostos e de onde vem o dinheiro que os paga.
Dessa forma, as crianças cresceriam sabendo que a escola, o asfalto, os postos de saúde e todos os demais serviços públicos não vêm de graça, e que os recursos para mantê-los saem do bolso de todos. Portanto, quando uma empresa superfatura uma obra ou quando algum servidor público tira vantagem do cargo para locupletar-se, quem está sendo roubado não é um ente abstrato chamado governo, e sim os contribuintes.
Atribui-se ao falecido economista americano Milton Friedman a expressão: "Não existe almoço grátis". No Brasil, tropicalizamos a frase resumindo-a na famigerada "Lei de Gerson": "O importante é levar vantagem em tudo". Não se pode mais ter tolerância com esses tipos de comportamento.
É de circunstâncias como essas que advém o desânimo de empresários como o citado no começo deste texto, que perderam completamente a crença de que é possível fazer negócios honestamente quando é necessária a interveniência de alguma repartição pública.
As empresas deveriam aproveitar para pôr em prática seu discurso de responsabilidade social, sendo intransigentes com propostas vindas de onde quer que seja que visem oferecer qualquer tipo de facilidade em troca de benefícios financeiros.
As entidades representativas do empresariado têm condições de se unir numa cruzada contra a corrupção, exigindo o máximo de transparência nas licitações públicas e punindo exemplarmente os filiados que forem cúmplices de desonestidades. Isso trará igualdade de condições para que todos possam competir sem ter de concorrer com quem se beneficia de práticas desleais.

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